Prescrição de Atividade Física no Setor Público X Setor Privado. Será que as etapas são as mesmas?
Alguns colegas de profissão têm me questionado se, o fato de o setor público supostamente possuir algumas limitações (como financeira, estrutural, dentre outras), faz com que as etapas da prescrição de Atividade Física ocorram de maneira diferente, com alguma forma de atalho, por exemplo.
Quando falamos da prescrição de Atividade Física, temos que entender que independente do contexto, estaremos intervindo na vida de pessoas. Por este “simples” motivo, devemos ter uma série de cuidados que, em suma, são os MESMOS em qualquer contexto. Seguem alguns pontos que não devem ser deixados para trás:
1. Ter um profissional capacitado para esta missão, representado aqui pelo Profissional de Educação Física, que é aquele que detém a expertise necessária para uma prescrição assertiva, garantindo segurança e resultados efetivos ao praticante da atividade física. Independente de ser setor público ou privado, este profissional deverá se atentar para as mesmas questões, a seguir;
2. Realizar um diagnóstico (anamnese) e quando possível, testes e avaliações físicas, no indivíduo. A partir das informações obtidas e dos parâmetros levantados, será possível mapear inúmeras questões (características pessoais fundamentais, hereditariedade, histórico de saúde, histórico de prática de atividade física, dentre outras informações) garantindo eficiência e segurança na prescrição. No caso do setor público, que aqui representarei pelas atividades realizadas na Atenção Básica, especificamente pelos NASF, é possível lançar mão do prontuário do paciente e ainda entrar em contato com os demais profissionais de saúde que acompanham o indivíduo (ou seja, se estávamos pensando que teríamos apenas limitações, é bom revermos nossos conceitos). Em contrapartida, as ações no setor público exigem, muitas vezes, dinâmicas coletivas, não diminuindo a qualidade deste processo, mas exigindo certa criatividade do profissional;
3. Prescrever o exercício físico a partir: a) das informações obtidas no processo anterior; b) das condições, objetivos e necessidades do paciente; c) do local e ofertas para a realização das atividades. Aqui uma pequena distinção entre os setores, pois, no setor público o objetivo final SEMPRE terá a saúde no primeiro plano, ou seja, a melhoria das condições de saúde. Se o indivíduo estiver buscando melhora na sua forma física, esta será uma consequência da sua melhora da saúde. Não estou dizendo que no setor privado a ordem é inversa, apenas que neste o critério de inclusão nem sempre é a saúde (cito como exemplo praticantes regulares de atividade física que buscam melhora no seu desempenho esportivo). Uma questão que é muito característica no Setor Público são as atividades de grupo. É importante deixar claro que a inclusão de indivíduos nestas atividades deve seguir critérios e, inclusive, instrumentos avaliativos, visando homogeneizar os participantes através de classificação de risco e/ou morbidade a serem trabalhadas. Vale lembrar que a homogeneização não deve significar exclusão. Na qualidade de serviço público e em respeito a princípios do SUS como o da universalidade, todos devem ter acesso aos serviços de saúde;
4. Realizar as atividades em local adequado, onde as atividades propostas assegurem a integridade física do praticante. Neste quesito o setor privado normalmente tem vantagem por possuir maior variedade de possibilidades. No setor público, por estarmos vinculados às Unidade Básica de Saúde, normalmente as atividades ocorrem dentro das UBS ou nos seus arredores. Um mecanismo que permite extrapolar estas limitações do setor Público são as parcerias intersetoriais, ou seja, usar espaços da comunidade como praças, escolas, igrejas, associações de moradores, etc;
5. Planejar todas as ações, dentro de uma amarração que não considera o evento pontual como foco, mas sim uma sucessão de ações que juntas rumarão aos objetivos estabelecidos. Isso é o que chamamos de periodização. Na Atenção Básica a planificação das atividades estarão muito evidenciadas em grupos focais e atividades de educação em saúde. Isso não quer dizer que não haja atendimentos individuais neste âmbito. Vale lembrar que, independente da modalidade de atendimento, devem ser previstas a reavaliação dos praticantes;
6. Estimular constantemente a adesão a hábitos mais saudáveis incluindo a prática regular de atividades físicas como uma das importantes facetas de uma vida mais saudável.
Contudo, não existe melhor ou pior. São contextos diferentes com particularidades que permitem a oferta a todos os públicos. O que é importante aqui é estar munido de profissionais capacitados e conseguir imputar nos indivíduos a consciência e motivação necessárias para o alcance do seu objetivo, independente do setor.
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